As pessoas sempre perguntavam para a menina porque escolherá aquele lugar. Ela murmurava alguma explicação vaga e rezava para os curiosos se darem por satisfeitos e não questionarem mais nada. A verdade é que escolherá por vários motivos. Alguns explícitos, outros velados, alguns que demorou muito tempo para descobrir e ainda outros que talvez nunca consiga entender. Mas todos os motivos formavam um: ela escolherá ver o mundo por outro ângulo.

Desde o primeiro dia sentiu saudade. Mas aquele era o lugar mais lindo do mundo. Um lugar perturbador. Ali tudo estava em mutação, tudo parecia um pouco fora do lugar. Inconvenientemente espetacular. Um desbunde para a alma. Amou. Identificou-se.

Gostou do estilo de vida daquela gente. Gostou das ruas sempre cheias a qualquer hora, em qualquer dia. Gostou dos restaurantes cheios aos domingos. Gostou do café-da-manhã na padaria. Gostou de acordar cedo aos sábados para ir a praia. Gostou do mar. Sempre amará o mar. Mas com muito pudor. Mal molhava os pés. Mas lhe enchia o peito de felicidade sabê-lo tão perto.

A menina viveria lá para sempre se aquele lugar não tivesse o pior dos defeitos: lá morava a saudade. Mas ela resistiu. Encarou a saudade de frente, respeitou a sua força, mas ficou. Tinha tantas coisas importantes para fazer naquele lugar maravilha.

Viveu tudo que queria e continuou deslumbrada. Mas uma clareira se abriu dentro dela e desejos novos surgiram. O principal deles era pertencer. Ela nunca pertencera. Onde nasceu não ficou, onde ficou era pau-rodado e onde estava não se é a menos que se tenha nascido.

Mas um dia ela descobriu que pertencia a um universo paralelo onde gravitavam iguais. Nesse universo existiam linguagens, códigos, tradições, histórias e afetos particulares. Nele, assim como nos outros espaços que a menina experimentara, ela era estranha, destoava, não ornava, incomodava até, mas apesar de tudo, pertencia. Era parte dele e vice-versa. Diferente de qualquer outro lugar, lá ela compunha, era uma parte daquele universo que sem ela seria outro.

3 Responses
  1. Unknown Says:

    É as vezes só nós mesmos entendemos o desejo do nosso interior. Apesar da saudade ser grende, eu aceito e entendo essa necessidade de distância. Amo Você!!! da maneira que vc é, o mais puro, sem mascara é assim o meu amor por você....maninha.


  2. Adorei...! Parabéns, Paula :)
    Ariane


  3. Lia Antunes Says:

    Lindo amiga!
    Amei!!! Saudades, ô palavrinha heim?
    bjks


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