O texto, abaixo, foi encontrado em uma escavação no lugar onde foi a antiga Caldéia, uma civilização anterior ao Egito. Trata-se de um documento sobre a lucidez, ou melhor, sobre o homem lúcido.
Trecho do filme Separações, de Domingos de Oliveira

"O homem lúcido sabe que a vida é uma carga tamanha de acontecimentos e emoções que ele nunca se entusiasma com ela. Assim como ele nunca teme a morte. O homem lúcido sabe que o viver e morrer são o mesmo em matéria de valor. Posto que a vida contém tantos sofrimentos que a sua sensação não pode ser considerada um mal.

O homem lúcido sabe que ele é o equilibrista da corda bamba da existência. Ele sabe que, por opção ou por acidente é possível cair no abismo a qualquer momento interrompendo a sessão do circo. Pode também o homem lúcido optar pela vida aí, então, ele esgotará todas as suas possibilidades. Ele passeará pelo seu campo aberto, pelas suas vidas floridas. Ele saberá ver a beleza em tudo.

Ele terá amantes, amigos, ideais. Urdirá planos e os realizará. Existirão os infortúnios e até mesmo as doenças. E, se atingido por algum desses emissários saberá surportá-los com coragem e com mansidão. E morrerá o homem lúcido de causas naturais e em idade avançada, cercado pelos seus filhos e pelos seus netos e seguirão a sua magnífica aventura. Pairará, então, sobre a memória do homem lúcido, uma aura de bondade. Dir-se-á: “Aquele amou muito. Aquele fez muito bem às pessoas”.

A justa lei máxima da natureza obriga que a quantidade de acontecimentos maus na vida de um homem se iguale sempre à quantidade de acontecimentos favoráveis. O homem lúcido porém, esse que optou pela vida, com o consentimentos dos deuses tem o poder magno de alterar essa lei. Na sua vida, os acontecimentos favoráveis serão sempre em maioria porque essa é uma cortesia que a natureza faz com os homens lúcidos."

(19/10/2006)
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