Quero envelhecer. Isso é uma urgência. Quero chegar logo àquela idade em que não existem urgências. A idade da candura, do desapego. A fase em que as lembranças escorrem pelas cicatrizes e as preenche com uma saudade generosa. Chegar, enfim, ao que exatamente se é. Sem ansiar novos acontecimentos, alegra-se bobamente com o ordinário da vida. Ser feliz apenas, sem complicar.

Dizem que "tudo é uma questão de manter a mente calma, a espinha ereta e o coração tranquilo". Essa frase faz parecer tão fácil, mas não é. Fácil mesmo é alvoroçar formigas como brinca Manoel de Barros: "Formiga é um ser tão pequeno que não aguenta nem neblina. Bernardo me ensinou: para infantilizar formigas é só pingar um pouquinho de água no coração delas."

Catei lembranças, recordações e rascunhos.
Vasculhei  gavetas, caixinhas e  velhos diários.
Acionei memórias sensoriais, fotografias em monóculos e digitais.
Revisitei velhos conceitos e considerei novas interpretações.

Tudo para tentar encontrar uma definição.
Mas só encontrei movimento e mutação...


Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto. É que Narciso acha feio o que não é espelho... Mas logo haverá para mim uma Ipiranga e uma Avenida São João e poderei te curtir numa boa!
Um lugarzinho iluminado, organizado e perfumado. Cheio de vida, histórias e boas risadas. Com espaço para sonhar e dançar. Janelas para ver a lua e deixar o sol entrar. Bebida gelada para os dias de verão, chá quentinho para o inverno e vinho para inebriar. Cortinas leves, cobertores macios e flores recém-colhidas.

Amplo para os dias de festas e acolhedor para os de nostalgia. Com fotografias para relembrar, livros para viajar e músicas para inspirar. Espelhos para ver o tempo se desenhar e um cantinho para rezar. Uma cama extra para quem chegar e uma rede para embalar quem ficar.


Assim é casa que estou fazendo “com muito esmero, na rua dos bobos, número zero.”